Geraldo Alckmin, o favorito dos poderosos na sucessão de Michel Temer, entregou-se ao Centrão para ter o maior tempo na propaganda eleitoral de rádio e tevê que começa dia 31. Compreensível. Arranjou um canhão midiático para tentar fazer o eleitor não pensar em temas desagradáveis para o tucano, como a ruína econômica de Temer, um governo apoiado pelo PSDB desde a primeira hora, ou o tema “corrupção”.
Codinome “Santo” em tramoias odebrechtianas que o obrigam a depor à Polícia Federal no dia 15, atento a delações homologadas de executivos da OAS e outras negociadas pela CCR sobre falcatruas no governo paulista, Alckmin iniciará a campanha com dois devotos encrencados. Um colaborador teve de sair de cena, enquanto um ex-secretário é processado na Justiça.
O colaborador abatido é o economista Roberto Giannetti da Fonseca, de 68 anos, uma das cabeças do plano de governo alckmista. Ele deu entrevistas na condição de colaborador do candidato do PSDB, acompanhou-o em eventos com empresários, como um seminário em junho na Abdib, a associação dos investidores em infraestrutura, e até redigiu um manifesto para o tucano justificar certas alianças partidárias. Agora, o ex-governador diz que ele não tinha cargo em sua equipe.
Claro. Enquanto, em 26 de julho, Alckmin se casava com o Centrão em Brasília, em São Paulo a residência e uma empresa de Giannetti eram vasculhadas pela PF na Operação Zelotes, aquela que desvendou um esquema de anulação de impostos federais movido a suborno. Para os investigadores, Giannetti ajudou uma siderúrgica sediada em Santo André (SP) a livrar-se, com propina, de uma pesada autuação da Receita Federal.
A cobrança era de 2007, de 274 milhões de reais. A empresa Paranapanema recorreu, em 2008, ao Carf, órgão do Ministério da Fazenda em que o devedor busca cancelar impostos. Triunfou em 2014, quando calculava a dívida em 424 milhões, com juros e multas – hoje seriam 650 milhões, segundo o Ministério Público Federal.
O MPF descobriu que o sumiço da dívida foi precedido de telefonemas e troca de e-mails entre emissários da Paranapanema e membros do Carf, encontros pessoais e grana. Giannetti teria sido um dos canais das negociações, recrutado pela siderúrgica para atuar em paralelo ao advogado oficial da companhia no Carf.
Revirada pela PF, a Brasilis/Kaduna, consultoria do economista, contratou duas firmas em Brasília para, conforme o MPF, aliciar o Carf. São velhas conhecidas da Zelotes. Uma é a Rodrigues e Advogados Associados. Seus sócios, Edison Rodrigues e a filha Meigan, foram do Carf e agora são réus nos tribunais. A outra, a Green Century, é do advogado Vladimir Spíndola, também já denunciado à Justiça.